Certa vez, um budista foi às montanhas procurar um grande mestre, que, segundo acreditava, poderia lhe dizer a palavra definitiva sobre o sentido da Sabedoria. Após muitos dias de dura caminhada o encontrou em um belo templo à beira de um lindo vale.
"Mestre, vim até aqui para lhe pedir uma palavra sobre o sentido do Dharma. Por favor, faça-me atravessar os Portões do Zen."
"Diga-me," replicou o sábio, "vindo para cá vós passastes pelo vale?"
"Sim."
"Por acaso ouvistes o seu som?"
Um tanto incerto, o homem disse:
"Bem, ouvi o som do vento como um suave canto penetrando todo o vale."
O sábio respondeu:
"O local onde vós ouvistes o som do vale é onde começa o caminho que leva aos Portões do Zen. E este som é toda palavra que vós precisais ouvir sobre a Verdade."
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
Por isso, apesar do predomínio, da exuberância gritante da técnica, há a possibilidade de prestarmos atenção e darmos ouvidos ao que silencia, ao que fica no encobrimento. Talvez nos lembremos de que o essencial do homem não consiste em ser aquele que é convocado a ver nas coisas, na natureza, nas pessoas, um fundo de reserva para ser explorado, usado, tendo como meta a produção de algo. Talvez assim nos seja dado um espaço em que possamos não submergir na necessidade da pressa, do controle, do imediato. Talvez possamos ir mais além, mais longe, mais distante, numa distância em que tudo pode se dar, até mesmo a presença do divino, a distância que é o vazio de um horizonte que é de cada um.
(in: POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Os dois nascimentos do homem." Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, pp. 139-140)
Um monge aproximou-se de seu mestre - que se encontrava em meditação no pátio do Templo à luz da lua - com uma grande dúvida:
"Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os Sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o Dharma está além dos termos, porque os termos são usados para defini-lo?"
O velho sábio respondeu: "As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta."
O monge replicou: "Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?"
"Poderia," confirmou o mestre, "e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a lua por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. O Dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio."
"Então," o monge perguntou, "por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?"
"Porque," completou o sábio, "da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na Verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário."
O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
O que possibilita a terapia é o fato de, como humanos, sermos dotados da palavra. A palavra inscreve todos os acontecimentos, todas as questões humanas na totalidade da história. A palavra constrói um espaço em que se pode morar.
(in: POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Os dois nascimentos do homem." Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 138)
Dois homens estavam discutindo sobre uma flâmula que tremulava ao vento:
"É o vento que realmente está se movendo!" declarou o primeiro.
"Não, obviamente é a flâmula que se move!" contestou o segundo.
Um mestre Zen, que por acaso passava perto, ouviu a discussão e os interrompeu dizendo:
"Nem a flâmula nem o vento estão se movendo," disse, "É a MENTE que se move."
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
O que a a terapia pode fazer por alguém é aproximá-lo da verdade de sua vida, de si mesmo, e isso significa possibilitar que ele se aproprie de sua história. Apropriar-se de sua história é aceitá-la como a sua, retomar e rever os significados e os sentidos do já vivido, do que está sendo vivido agora e poder ver que o tempo está sempre aberto. O modo como o problema que a pessoa havia trazido se encaixa no contexto da sua vida poderá ficar mais claro para ela, e é possível que apareça uma solução para ele, ou não. Aqui, lembramo-nos do dizer de Jung no prefácio de O Segredo da flor de ouro, livro clássico do taoísmo: há problemas que não são resolvidos, são ultrapassados.
(in: POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Os dois nascimentos do homem." Rio de Janeiro: Via Verita, 2011, p. 138)
O monge perguntou ao Mestre:
"Como posso sair do Samsara (a Roda de renascimentos e mortes)?"
O Mestre respondeu:
"Quem te colocou nele?"
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
Poiesis é um levar à luz, é trazer algo para a desocultação.
[…]
Estamos chegando a poder dizer que terapia é a procura, via poiesis, pela verdade que liberta para a dedicação ao sentido.
(POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Na presença do Sentido." São Paulo: EDUC/Paulus, 2004, pp. 158 e 169)
Ao encontrar um mestre Zen em um evento social, um psiquiatra decidiu colocar-lhe uma questão que sempre esteve em sua mente:
"Exatamente como você ajuda as pessoas?" ele perguntou.
"Eu as alcanço naquele momento mais difícil, quando elas não têm mais nenhuma questão para perguntar," o mestre respondeu.
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
[…] Retornei à questão sobre o que Freud fazia no consultório antes de ter elaborado a teoria psicanalítica. Para me dizer o que Freud fazia então, Boss me falou: “Psicoterapia é procura”.
A palavra procura me chamou a atenção, e percebi que se abria um significado mais original quando a líamos assim: pró-cura.
“Terapia é pró-cura”, isto é, “terapia é para cuidar”; em latim, cura tem o significado de cuidar.
Fundamentalmente, então, terapia é procura. Mas procura de quê?
No caso da terapia, aquilo que se procura não é algo que vai acontecer lá no final do processo, mas algo que se dá, passo a passo, através do modo como ela se realiza. Esse “modo” constitui o próprio acesso ao “o quê” se procura.
(POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Na presença do Sentido." São Paulo: EDUC/Paulus, 2004, p. 156)
Certa vez Bodhidharma foi levado à presença do Imperador Wu, um devoto benfeitor budista, que ansiava receber a aprovação de sua generosidade pelo sábio. Ele perguntou ao mestre:
"Nós construímos templos, copiamos os sutras sagrados, ordenamos monges e monjas. Qual o mérito, reverenciado Senhor, da nossa conduta?"
"Nenhum mérito, em absoluto", disse o sábio.
O Imperador, chocado e algo ofendido, pensou que tal resposta com certeza estava subvertendo todo o dogma budista, e tornou a perguntar:
"Então qual é o Santo Dharma, o Primeiro Princípio?"
"Um vasto Vazio, sem nada santo dentro dele", afirmou Bodhidharma, para a surpresa do Imperador. Este ficou furioso, levantou-se e fez sua última pergunta:
"Quem és então, para ficares diante de mim como se fosse um sábio?"
"Eu não sei, Majestade", replicou o sábio, que assim tendo dito virou-se e foi embora.
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
Como mortais, que podem a qualquer momento, no presente ou no futuro, deixar de existir, que desde o passado já podiam ter deixado de viver sem grande prejuízo para o mundo, nós compreendemos que nossa vida nos é dada como um poder ser que não tem de ser, como um gesto de liberdade. Não é a liberdade dos deuses, que decorre de sua onisciência e onipotência. Ao contrário, é a liberdade do que não é necessário. É a forma de liberdade que diz respeito a entes que, não precisando existir, contudo existem e, uma vez existindo, têm a responsabilidade pela existência, que é a oportunidade de realizar, de gestar significações, obras, tarefas, conhecimentos.
Não somos obrigados, mas convidados a responder às solicitações de tudo aquilo que, de algum modo, nos chama.
(POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Na presença do Sentido." São Paulo: EDUC/Paulus, 2004, p. 80)
Um guerreiro japonês foi capturado pelos seus inimigos e jogado na prisão. Naquela noite ele sentiu-se incapaz de dormir pois sabia que no dia seguinte ele iria ser interrogado, torturado e executado. Então as palavras de seu mestre Zen surgiram em sua mente:
"O ‘amanhã’ não é real. É uma ilusão. A única realidade é ‘AGORA’. O verdadeiro sofrimento é viver ignorando este Dharma".
Em meio ao seu terror subitamente compreendeu o sentido destas palavras, ficou em paz e dormiu tranqüilamente.
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
O homem percebe a vida como algo de imenso valor, como totalmente frágil e vinculada a um outro valor acima dela: o significado da vida. Nós nos sabemos vivos, damos um sentido para a vida, precisamos dele para viver. Mas, destinados a morrer, somos solicitados a encontrar também um sentido para o morrer. Essas questões, ao se apresentarem a um ser humano, revelam-se como as que mais profundamente o preocupam e precisam ser cuidadas. Talvez por isso, nós – os homens – sejamos os mortais.
(POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Na presença do Sentido." São Paulo: EDUC/Paulus, 2004, p. 73)
Um mestre em caligrafia escreveu alguns ideogramas em uma folha de papel. Um dos seus mais especialmente sensíveis estudantes estava observando. Quando o artista terminou, ele perguntou a opinião do seu pupilo - que imediatamente lhe disse que não estava bom. O mestre tentou novamente, mas o estudante criticou também o novo trabalho. Várias vezes, o mestre cuidadosamente redesenhou os mesmos ideogramas, e a cada vez seu estudante rejeitava a obra.
Então, quando o estudante estava com sua atenção desviada por outra coisa e não estava olhando, o mestre aproveitou o momento e rapidamente apagou os caracteres que havia escrito no último trabalho, deixando a folha em branco.
"Veja! O que acha?," ele perguntou. O Estudante então virou-se e olhou atentamente.
"ESTA... é verdadeiramente uma obra de arte!", exclamou.
(Uma lenda diz que este é o conto que descreve a criação de arte do mestre Kosen, que por sua vez foi usada para criar o entalhe em madeira das palavras "O Primeiro Princípio", que ornamentam o portão do Templo Obaku em Kyoto).
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
A passagem não é para ser feita na pressa. Entre o novo que se abre e o que fica para trás há uma ligação. É como quando passamos por uma ponte: esta marca o término de uma margem do rio e dá acesso ao outro lado; ou como quando passamos por uma porta: esta separa e liga dois espaços. A passagem faz a ligação. A pressa distorce a passagem.
(POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Na presença do Sentido." São Paulo: EDUC/Paulus, 2004, p. 56)
Um velho homem bêbado acidentalmente caiu nas terríveis corredeiras de um rio que levavam para uma alta e perigosa cascata. Ninguém jamais tinha sobrevivido àquele rio. Algumas pessoas que viram o acidente temeram pela sua vida, tentando desesperadamente chamar a atenção do homem que, bêbado, estava quase desmaiado. Mas, miraculosamente, ele conseguiu sair salvo quando a própria correnteza o despejou na margem em uma curva que fazia o rio.
Ao testemunhar o evento, Kung-tzu (Confúcio) comentou para todas as pessoas que diziam não entender como o homem tinha conseguido sair de tão grande dificuldade sem luta:
"Ele se acomodou à água, não tentou lutar com ela. Sem pensar, sem racionalizar, ele permitiu que a água o envolvesse. Mergulhando na correnteza, conseguiu sair da correnteza. Assim foi como conseguiu sobreviver."
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
Diferentemente dos animais, o homem é movido por aquilo que ainda não é. O que ainda não é é expectativa, projeto, imagem, sonho; mesmo que nunca venha a ser, que permaneça como pura possibilidade, esse ainda não é é exatamente o que permite a possibilidade de ser (se já fosse, não seria mais uma possibilidade). A força maior dessa perspectiva de futuro pode vir desse ainda não.
(POMPÉIA, João Augusto e SAPIENZA, Bilê Tatit. "Na presença do Sentido." São Paulo: EDUC/Paulus, 2004, p. 18)
O filho de um mestre em roubos pediu a seu pai para ensinar-lhe os segredos de seu ofício. O velho ladrão concordou e naquela noite levou seu filho para assaltar uma grande mansão. Enquanto a família dormia, ele silenciosamente levou seu aprendiz para dentro de um quarto que continha um armário de ricas roupas. O pai disse ao filho para entrar no armário e pegar algumas roupas. Quando o rapaz fez isso, seu pai rapidamente fechou a porta e o prendeu lá dentro. Então ele saiu, e bateu sonoramente na porta da frente, acordando conseqüentemente a família que dormia, e rapidamente fugiu antes que qualquer pessoa o visse.
Horas mais tarde, seu filho retornou à casa, em trapos e exausto.
"Pai!" ele gritou em fúria, "Porque o senhor me prendeu no armário? Se eu não tivesse usado desesperadamente meus recursos com medo de ser descoberto, eu jamais teria escapado. Tive que abandonar toda a minha timidez para sair de lá!"
O velho ladrão sorriu: "Filho, você acabou de ter sua primeira lição na arte da rapinagem..."
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")
Não vamos esquecer: a pergunta acerca do sentido da vida e a infinidade de respostas possíveis são feitas com palavras. Quando uma pessoa nasce, e ainda durante muito tempo antes de dizer “eu”, já é falada pelos outros. A rigor, mesmo antes de nascer, o bebê já é assunto das palavras alheias, principalmente de sua família. Um belo dia, ao se perceber como uma pessoa supostamente singular, de algum modo o indivíduo sabe que já vinha sendo dessa maneira percebido agora; ou seja, ele percebe que não “começou” nesse momento. Mas só muito mais tarde (ou nunca) perceberá que pouco decidiu acerca de sua identidade.
(CANCELLO, Luiz. “O Fio das Palavras.” São Paulo: Summus, 1991, p. 82)
O terapeuta se dedica a confiar em João. Frase curiosa! Confiar é co-fiar: seguir junto o mesmo fio.
O que faz João, no consultório? Ele fala. E o terapeuta? Segue o fio da fala de João. Assim confia:
seguindo, no correr do tempo, o discurso do outro. Participando, a seu modo, da trama que as
palavras vão tecendo. Ouvindo muito, às vezes falando com o paciente.
Voltamos à linguagem.
(CANCELLO, Luiz. “O Fio das Palavras.” São Paulo: Summus, 1991, p. 43)
As Dez Ilustrações do Pastoreio do Touro, que ingressaram, há alguns séculos, na literatura
tradicional, são familiares a muitos daqueles que buscam um treinamento para a consciência de si.
Desde o aparecimento das primeiras versões, muitas outras surgiram, algumas delas muito próximas
das primeiras representações de Kaku-na, Fumyo e do autor anônimo de As Dez Ilustrações do
Touro Branco; existem também versões que guardam seu significado particular. Na era atual pós-moderna, em que as ideias mudam rapidamente, permanece crescente o interesse no estudo do
Touro. Os homens e mulheres que questionam e buscam não são insensíveis às orientações que os
levam de volta às fontes, à experiência de uma outra relação consigo mesmo e com o mundo.
(SEGAL, William. “Respirar o Instante.” São Paulo: Horus, 2004, p. 136)
Sozinho na imensidão da selva,
o rapaz está buscando, buscando!
As águas transbordantes, as montanhas longínquas
e o caminho sem fim;
Exausto e em desepero, ele não sabe para onde ir,
ele só escuta as cigarras vespertinas cantando nas árvores.
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Pelo regato e sob as árvores,
esparsas são as pegadas do perdido;
Os capins de sabor adocicado estão crescendo espessos-
ele encontrou o caminho?
Entretanto, distante, nas montanhas, o animal pode estar vagando.
Seu nariz alcança os céus e ninguém pode mascará-lo.
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Num galho de árvore muito distante um rouxinol
pousa cantando alegremente;
O sol está quente e sopra uma brisa suave; na encosta,
os salgueiros estão verdes;
O touro está lá, completamente só; não tem onde se esconder;
Sua esplêndida cabeça decorada com majestosos chifres
– que pintor poderá reproduzi-la?
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Com a energia deste ser total, o rapaz,
finalmente, segurou o touro;
Porém, tanto a sua vontade é selvagem quanto ingovernável é o seu poder!
Às vezes, anda empertigado num platô.
Que vemos? Perde-se novamente na bruma impenetrável do desfiladeiro
da montanha.
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
O rapaz não tem de se separar do chicote e da corda,
Para que o animal não fique vagando num mundo de impurezas;
Quando ele estiver adequadamente encaminhado, crescerá puro e dócil;
Sem corrente, nada prendendo, sozinho seguirá o vaqueiro.
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Montado no touro, ele, calmamente,
encaminhou-se para casa;
Envolvido na bruma do anoitecer, com que harmonia saíam os sons da flauta!
Cantando uma balada, marcando o compasso, seu coração
sentia uma alegria indescritível!
Pois agora ele é um dos que sabe; é preciso dizer?
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Montado no animal, ele finalmente volta para casa,
Onde - vejam só! - o touro não está mais;
o homem está sentado sozinho, serenamente.
Apesar do sol vermelho no céu, ele está calmo, sonhando.
Sob um telhado de palha repousam, imóveis, o chicote e a corda.
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Tudo está vazio - o chicote, a corda, o homem e o touro:
Quem poderá pesquisar a vastidão do universo?
Sobre a fornalha ardente em chamas, nem um floco de neve pode cair:
Quando este estado de coisas é obtido, manifesto é o espírito do antigo mestre.
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Querer voltar às origens, à fonte - já é um passo errado!
É muito melhor ficar em casa, cego e surdo, sem fazer muito barulho;
Sentado na cabana, não se toma conhecimento do que se passa lá fora,
Contempla as águas do regato correndo, ninguém sabe para onde vão;
E as flores de um vermelho intenso – para quem são elas?
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Com o peito nu e os pés descalços, chega ao mercado;
Todo sujo de lama e cinza, com que alegria sorri!
Não precisa dos poderes milagrosos dos deuses,
Tudo em que ele toca... Vejam! As árvores mortas estão florindo!
(in: SCOTT e DOUBLEDAY. “O Livro de Ouro do Zen.” Ediouro, 2000, cap. 8)
Nan-In, um mestre japonês durante a era Meiji (1868-1912), recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas.
Nan-In, enquanto isso, serviu o chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse:
"Está muito cheio. Não cabe mais chá!"
"Como esta xícara", Nan-in disse, "você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?"
(in: "Koans e Contos Zen Buddhistas")